Thursday, February 14, 2008

O Consumo é, e será sempre, o Pai da banalidade!


Tenho em casa um bravo cavaleiro da Távola Redonda com pouco mais de uma década vivida. Há poucos dias, quando arrumava o meu roupeiro - que de quinze em quinze dias parece que sofreu um atentado – o meu pequeno heróis deu de caras com dois lenços da Palestina – Sim, vou chamar-lhes assim! Primeiro porque quero, segundo porque entendo que este é o seu nome e terceiro porque adoro dizer a palavra Palestina! Soa a País!
Dizia eu, que o meu pequeno herói se deparou com os dois lenços e ficou ao rubro! Deu pulinhos de contente e pediu: Mãe, mãe por favor dá-me um!
Irresistíveis estes pequenos cavaleiros…
Sorri-lhe e respondi: - Claro, escolhe um! Nesta altura os olhos cor de mel brilharam e a mão segura invadiu o caos do meu guarda-roupa e assim como que por um golpe de magia pegou no lenço certo! Agarrei-o pelo braço e sentei-o na cama perto de mim…
- Sabes que lenço é esse?
- Sim, todos os meus amigos têm um!
- Sabes por que os usam?
- Sim, são fixes!
- Sim, é verdade são mesmo!
- Queres saber por que tenho dois?
- Sim, e por que estavam aqui guardados?
- Olha, este, que é branco e preto e mais escuro que aquele foi-me oferecido por um amigo que morreu na Palestina. Sabes onde fica a Palestina?
- Não! Não sei!
- Pois não…é que é como se não existisse, sabes? É um país que não é país e um estado que não é estado…mas depois com mais calma explico-te tudo e vamos ao Google.

– Escusado será dizer que o meu Bravo Guerreiro ficou em choque ao saber que as nações Unidas, AS MESMAS QUE DITARAM OS DIREITOS DAS CRIANÇAS – que ele tanto apregoa -, AINDA NÃO RESOLVERAM ESTE ASSUNTO E DEIXOU DE CONFIAR EM ABSOLUTO NESTA ORGANIZAÇÃO QUE TANTO ADMIRAVA – obrigada ONU por trazeres a desilusão para dentro do meu doce lar e para os olhos do meu doce filho!

Ora a Palestina é na verdade um pais sem pátria, entendes?...claro que não…
Mas era eu pouco mais velha do que tu e um grande amigo foi lá. Um amigo com quem me dava nas minhas lides politicas de que já te falei. De lá trouxe-me este lenço que vinha com um pin da OLP, uma bandeira da Palestina, uma fotografia do Arafat e histórias muito tristes.
Tive, até mudar para cá a bandeira no meu quarto pendurada e a fotografia dizia: Palestina, um sonho possível…acredito ainda nisso, imagina!
- Achas-me muito tonta?
- Não Mãe…não és nada tonta.
Este lenço usei mais de 10 anos ao pescoço, assim! – e dobrei o lenço dando-lhe voltas ficando apenas um pequeno triangulo de lado, coloquei-lho ao pescoço para lhe mostrar como se deve usar.
Ele foi ver-se vaidoso ao espelho e voltou para junto do meu relato.
- Por que deixaste de usar?
- Porque quando cá cheguei toda a gente usava e achei que estava num lugar onde muitos pensavam como eu e pouco tempo depois percebi que o usavam por moda e não por uma causa. Usavam porque ficava bem com as roupas mas muito mal com os cérebros!
O meu cavaleiro não conseguiu deixar de rir.
- Mas e agora já não os queres?
- Quero, claro! Eu sei o que eles representam e penso da mesma maneira que pensava quando os usava…só que não quero que me confundam com os que os usam sem saber o que estão a fazer?
- Então e por que me estás a dar este?
- Porque este é o que tem significado para mim! O outro comprei-o na Festa do Avante, são diferentes, estás a ver?
- Sim são, este é mais escuro…porquê?
- Não sei, deve ser porque veio de um lugar mais triste.
- Mãe, posso mesmo ficar com ele?
- Claro, filho, é teu de agora em diante. Esperemos que se tiveres que o dar a alguém possas contar uma nova história sobre ele!
- Sabes Mãe, não o vou usar!
- Mas porquê se todos os teus amigos usam?
- Tenho medo de o perder…e não podemos perder causas…


Sobre isto quero dizer que:
1 - Quando arrumo o armário da roupa do meu valente cavaleiro da Tavola Redonda, no canto esquerdo ao fundo está pousado e guardado o meu velho lenço da Palestina…tal e qual como a Palestina está pousada no armário das Nações Unidas!
2 - E que a França foi o único país que lhe deixou algum brilho nos olhos quando lhe disse que foi lá que Arafat morreu e que de lá saiu num caixão e com honras de chefe de estado!

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