Thursday, April 24, 2008

A Ti que Moras no Meu Coração

Neste curto espaço entre nós e a morte

tão mal gastamos nossa longa despedida!



Tu, amor de quem não sei o nome

de onde não sei a sorte,

vais passar além deste poema que era teu

e assim, de morte construída,

teus passos vão enchendo a minha vida.



Outro nome será flor sobre teus lábios,

e outros dedos tocarão a límpida frescura

dos teus ombros quase d’água

e saberão de cor o horizonte branco do teu corpo...



E assim iremos de olhos futuros,

tu, envelhecendo da minha ausência,

eu, a erguer-te na curva da esperança,

e outra mão vai desmanchar a tua trança

e hei-de beija teu rosto onde não eras

e serás só o que há antes das horas mais tristes.



Neste curto espaço entre nós e a morte,

onde me vais perdendo,

onde te vou buscando,

nosso amor se vai embora alimentando

a despedida;



não porque morra o tempo em teus braços,

mas a vida.

Victor Matos e Sá, Horizonte dos Dias, 14

Wednesday, April 9, 2008